26 de outubro de 2008

Saco cheio

Eu sofro, me lamento e depois vou dormir. Há anos. Um belo dia, resolvi mudar e falar tudo que precisava. E em tudo que eu faço existe um por que. Mas nem tudo é tão simples que caiba num cartão postal. Os lugares estão tão diferentes, as pessoas e eu. Mas a sensação é a mesma. E, do meio do nada, surge, numa tarde muito quente, uma coisa gelada no tronco. Nasce perto do umbigo e se divide. Metade sobe, metade desce. A paciência esgota. Mas amanhã é só fingir que nada está se passando pela minha cabeça. Isso é fácil, tenho experiência. Mas um belo dia vou lhe telefonar pra lhe dizer que aquele sonho cresceu. Não sei mais se sinto prazer de ser quem eu sou e de estar onde estou.

Com trechos (adaptados) de “Agora Só Falta Você” (Rita Lee e Luís Sérgio Carlini) e “Cartão Postal” (Rita Lee)

24 de outubro de 2008

Isso não acontece frequentemente

Eu vejo coisa onde não tem. Indiretas, grosserias. Eu sou infantil, sabe? Eu cobro coisas idiotas, como atenção e carinho. Mudo de humor muito rápido e as vezes isso é ótimo e as vezes é péssimo. Eu morro de preguiça de muita coisa, de certos cenários, papos e trocas e sou muito ciumento. Quando eu beijo alguém que gosto muito, eu coloco a mão na nuca do outro e aperto o cabelo com força, como se estivesse acontecendo outra coisa. Falar nisso, preciso cortar meu cabelo pra ontem.

14 de outubro de 2008

Quebra do silêncio

Eu não sei lidar com a morte dos outros. Sim, dos outros. Me deparei com ela duas vezes na minha família. E foi OK. Chorei muito mais na primeira vez. O que quero dizer com morte dos outros é que não sei como lidar com a perda alheia. Hoje, uma amiga minha perdeu um amigo dela. Não soube o que dizer, o que fazer, como confortá-la. Cheguei a me sentir mal e culpado por isso. Eu tenho meus conceitos, minhas idéias, minhas crenças – elas são boas para mim, me fazem bem e aliviam muitas das minhas inseguranças, mas sinto que para confortar os outros elas não bastam. Eu queria dar abraços gigantes nela e dizer que tudo vai ficar bem – e eu tenho certeza que vai – mas não consigo pensar numa maneira de fazer isso sem soar falso. Eu tenho esse problema. Eu pareço muito mais superficial do que sou e, as vezes, me guardo exatamente por causa disso e o silêncio me faz parecer mais superficial ainda. Mas é que me envergonho da minha ignorância em relação a uns e não vejo prazer em perceber que sei mais que outros. Enfim, é isso. Desculpe o silêncio.

5 de outubro de 2008

Amor e rotina

"Tratar o outro como uma pilha de cristais finos. Pois o ser humano é um amontoado de traumas. E cada um desses traumas merece atenção e tato, quase tratamento especial. Daí se faz a intimidade máxima: um conhece os problemas emocionais do outro (...). É, no final das contas, essa sabedoria que sustenta os alicerces de um casamento. Mas mantê-los é tão cansativo que, às vezes, os casais duvidam se aquilo vale a pena. Se não seria melhor viver sozinho, do que ter que estar atento a tudo o tempo todo. Estar ligado às variações de humor do outro, às faltas de interesse físico, ao desânimo com a própria higiene. Estar acompanhado é um trabalho árduo, disfarçado de aconchego."

Fernanda Young - Vergonha dos Pés

4 de outubro de 2008

Queria ter menos pêlos. Me sinto sujo com eles na minha pele e no meu rosto. Na puberdade, dava medo vê-los invadindo minhas pernas e axilas tendo certeza que, algum bom tempo depois, eles sumiriam da minha cabeça. Mas não é medo de envelhecer. Mas também não sei bem o que é.

Tem pêlos nos meus dedos dos pés, baita coisa inútil. Eu tenho mesmo vergonha dos meus pés. Não ao ponto de usar meias no sexo, mas pode saber: se você já viu meu pé, não vai ficar lá mais íntimo que isso.