26 de novembro de 2011

Tudo anotado

Uma noite com pouco sono e muita reflexão, muita utopia. Utopia de um mundo com mais risadas. De uma sociedade que olha pro céu, que dá mais abraços honestos e que não pega o carro pra ir à padaria. Que não discute gosto.

Por um mundo com menos batalha de ego. Com mais atenção aos cristais que são os sentimentos humanos. Com mais atenção à própria respiração e evolução.

Eu quero crescer e abrir mão desses meus rancores infantis. Eu quero ser suave e resolvido e me cercar de mais gente assim.

Vou parar de choramingar. Me aguardem.

4 de outubro de 2011

Troféu

O troféu que eu fiz para nós de pele e ouro esteve em mãos erradas. Na verdade, foi vendido - e por menos do que valia. E todo homem que o tocou achou o paraíso na terra.

A rainha e a corte real aplaudiu, adorou; seus corações incharam demais sobre uma espada de misericórdia. Misericórdia isso e misericórdia aquilo, deixaram a justiça prevalecer. Mas eu só quero meu troféu de volta, ele não estava à venda.

Quando eu peguei meu troféu de volta demorou um pouco para polir, voltar ao preto. Quando eu coloquei de volta pra dentro e fechei a porta, percebi: um troféu de misericórdia não é mais um troféu.

3 de outubro de 2011

23 de agosto de 2011

Anything

And what's that saying again? They're only words and words can't kill me. Well, I can't even spell them and the cadence of what she says is swell. And don't look now, but there's a spider crawling on the wall behind you. Yep, I should have paid attention in algebra.

Let's talk about spaceships or anything, except you and me, okay?

Say hi to your mom.

4

Tanta filosofia só pra perder tudo. O celular, seu número, o frio na barriga e o Bowie. Mas meu número não mudou. E nada vai mudar.

7 de agosto de 2011

Todas as luzes

Cop lights, flash lights, spot lights
Strobe lights, street lights
All of the lights, all of the lights
Fast life, drug life, thug life, rock life
Every night, all of the lights

6 de agosto de 2011

Estou triste

E ninguém percebeu.

22 de julho de 2011

Interrompendo David Bowie

De vez em quando, vejo um telefone que pode ser interessante em uma placa pela cidade. Um delivery de uma comida que gosto, um apartamento pra alugar. Na pressa, jogo o número no celular com títulos sem sentido. E um dia, com nada para fazer, estava deletando esse números, aproveitando para apagar da agenda também pessoas que eu não converso mais e passei pelo seu telefone. Tive dúvidas. Jamais ia ceder à vontade de ligar, mas não sei se seria o caso de apagar. Na verdade, aposto que você já mudou de número, de aparelho, de cidade, de país. Mas gosto de deixar aquela sequência numérica salva ali. Só minha terapeuta pode explicar. Mas suspeito que é uma vontade de que, quando você ligar um dia, eu veja quem é antes de atender e, talvez, não atenda. É dessas situações assim, das que você só sabe como vai agir quando a ação realmente acontecer. Consigo imaginar meus 3 segundos de puro pânico olhando para o celular tocando e seu nome aparecendo ali e eu petrificado. Meu aparelho toca "Rebel, Rewbel", do Bowie, você sabia? Pois é. Ficaríamos eu e Bowie ali. Eu sem saber se interrompia a música e ele, sem saber do drama todo, tocando alegremente.

24 de junho de 2011

Direção

Eu sempre tive problemas com extremos que são igualmente prazerosos para mim. Metade do tempo que fiz terapia tratei disso. Da vontade que tinha de namorar com uma pessoa e da vontade que tinha de trepar cada dia com uma pessoa diferente. Da vontade de fazer academia e da vontade de ficar em casa só vendo televisão. Da vontade de comer coisas saudáveis e da vontade de só comer coisas gordurosas. Da vontade de tentar fazer algo no mundo das artes e da vontade de ter um emprego mais regular. O problema em que todas essas questões se baseiam é o controle. Sempre, em uma das opções, há um pouco mais da sensação de que minha vida não está sendo controlada inteiramente por mim. Eu tenho medo de um futuro incerto e acho que posso controlá-lo se agir de tal ou tal maneira. Uma bobagem, eu sei, mas não consigo evitar. E o empenho para agir da tal maneira que acho correta me falta às vezes. Eu me esforço e aparento estar bem, mas estou morrendo por dentro. Eu sou muito mais egoísta do que queria ser e é curioso como não me comove o sucesso das pessoas que eu não gosto. Já as que gosto... Não sei o motivo. É algo no mesmo nível de querer controlar a situação, eu acho. Não querer estar ao redor de quem eu amo e acho que é melhor do que eu. Mas também da dificuldade de amar quem acho pior que eu. E até parece que dá pra medir essas coisas! E ver gente que amo ou amei se dando bem e "passando na minha frente" me faz querer levantar daqui e ir chorar escondido ali no banheiro. Não farei isso, é óbvio. Tenho uma imagem a zelar para comigo mesmo, acho. Sei lá. Quanto mais eu penso, mais perco meu tempo. Se a gente foca nessa linha de chegada imaginária, não conseguimos ver a paisagem ao redor. Mas talvez a paisagem seja feia; talvez eu não a queira ver; talvez eu seja cego mesmo. O problema nunca é com o que sou, é com o que eu queria ser.

20 de junho de 2011

A dor da cura

Todos nós fazemos algumas coisas bem negativas em nossas vidas. Mas arrependimento não é ficar batendo em nossas próprias cabeças. Trata-se de transformar a transgressão em uma virtude. Nunca se trata apenas da realidade do 1% daquilo que fizemos. Trata-se de onde nossa cabeça se encontra. Trata-se do tipo de consciência que nasceu como resultado daquela ação negativa que praticamos. Se o que você fez na realidade do 1% era o que precisava acontecer para finalmente colocar sua cabeça no lugar certo para dizer “Não quero mais fazer isso. Chega disso!”, a transgressão se torna uma virtude.

31 de maio de 2011

O varal do vizinho

No café da manhã:

- Meu Deus do céu - disse a mulher, abismada, de pé - olha só os lençóis que a vizinha está colocando para secar no varal!
- Que tem eles? - perguntou o marido lendo jornal.
- Não estão limpos. Aliás, estão bem longe disso! Ela devia lavar tudo de novo! Nunca vi isso...

Na manhã seguinte:

- Não acredito - reclama a mulher - de novo os lençóis sujos!
- Deixe isso pra lá - resmungou o marido, sem ligar.
- Mas é que eles não estão limpos. Será que ela não percebe que a roupa de cama está manchada ainda?

No outro dia:

- Agora sim! - comemorou a mulher sorridente - A vizinha finalmente lavou as roupas direito, olha só. Tudo branquinho e limpo como devia ter sido desde sempre. Como será que ela conseguiu esse resultado de um dia pro outro?

O marido, sem desgrudar o olho do jornal, disse:

- Nada. Eu é que levantei mais cedo e limpei nossa janela.

29 de maio de 2011

18 de maio de 2011

As pessoas que nunca mais vi

O lugar onde dormi ontem é mais longe do meu trabalho e eu tive que acordar mais cedo. Estava bem frio e tive que pegar ônibus para ir trabalhar - algo que não fazia desde que saí de lá. Revi umas pessoas. Aqueles personagens do ônibus. Aquela mulher que sempre já está lá dentro, a outra que fica no mesmo ponto que você, aquele cara que sempre senta no mesmo lugar. Foi tenebroso e delicado, pois me senti bem. Senti algum conforto naquilo, alguma sensação de que não estou sozinho nessas pessoas que nunca mais vi.

9 de maio de 2011

A cenoura

Eu não vou me adaptar. Ando muito cansado. Não consigo descansar, não me deixam. Cansado de muito barulho, de muito silêncio, de todo lugar e de lugar nenhum. Esgotado e com falta de ar por causa dessa beirada que sempre me encontro, essa de pousar a felicidade num futuro inatingível.

Me sinto um cavalo com uma cenoura pendurada na minha testa. Minha fome me move pra frente, mas nunca chego nela, nunca acaba meu desejo e eu estou prester a morrer de fome. Odeio isso. São anos e anos pousando minha felicidade ali na frente. "Minha vida vai começar quando tal coisa acontecer".

Aí eu paro e tentar ver a felicidade ao redor. Eu consigo. Mas logo me dá uma agonia enorme de estar parado admirando a vista quando, na verdade, eu devia é continuar escalando. Aí dou adeus ao patamar e sigo para o topo. O topo que nunca chega. A cenoura que nunca alcanço. A plenitude que nunca sinto.

8 de maio de 2011

Quitte

And in cafes they look away
That is unless they look right in
(Ne Me Quitte Pas)

3 de abril de 2011

Agora eu entendi

- Eu tinha um amigo chamado Barret. Ele tinha um nariz realmente grande. Mesmo quando tínhamos 8 anos e todos tinham narizes pequenos, ele tinha um narigão.

Sempre achei que, se eu fosse Barret, teria muita vergonha do meu nariz. Mas ele não tinha. Ele nem percebia. Ele sempre estava feliz, todo mundo gostava dele, e ele sempre teve namoradas desde o ensino médio. Tudo isso me confundia. Até que conheci o pai dele.

Ele é um cara importante de Wall Street, super bem vestido, com o mesmo nariz. É enorme. E conheci a mãe dele também e ela é linda. Eles parecem uma família perfeita. Só agora eu entendi.

- De onde Barret tirou sua confiança?

- Exatamente. É que ele se parece com seu pai e seu pai é feliz.

"In Treatment", Jesse, 23/03

27 de março de 2011

The Mansion Song

I fancy the hip rock 'n roll scene-ster. I wanna be fucked and then rolled over, 'cause iIm an independant woman of the 21st century. No time for nits, I want sex and abortuary.

I read Glamour and The Guardian.
I like flowers, and I'm hardian.
I take cocaine.

I don't give a fuck about her, I want your name. I can get fucked like the best of men, like the worst of pain, inflicted on another young girl again; impressed by another Guitar Hero: he's a top score and you're a zero!

You fall hard, cut quick and it's an STD, a cut knee. You're a side of stage grasp, a laugh, an after-show party in a bath. Fucked and expected to be fucked, a gasp from an uninformed intruder, the crowd go wild and things get ruder and they're already out of hand and there's no one here to take your hand. You were just a whole that lacked passion, another undignified product of society.

That girl shoulda been a mansion.

-Kate Nash

26 de fevereiro de 2011

Certeza do dia

A única certeza é a de que todos morrem. Mas ouso que dizer que todos se enganam. Há outra certeza, a de que a todos morrem sozinhos. Todo ser vivo desse mundo recebe ajudas ao longo da vida nas mais diversas tarefas, mas todos eles têm apenas a si mesmos no momento que deixam isso aqui. E não há ninguém para segurar a sua mão ou amaciar sua queda, é tudo um banho frio. E a vida toda, passada, foi só uma tentativa de mascarar isso. Namoros, estudos, casamentos, botecos, ideais, valores, filhos; tudo uma tentativa de esconder que você não é ninguém. Muitas vezes tentativas pra lá de bem sucedidas.

Existem grupos, assim como no mundo animal. Mas querido elefantezinho, querida zebra, quando o leão vier atacar, nenhum outro ser do rebanho virá ser atacado em seu lugar - nem mesmo virão apenas te defender. Na hora da histeria é cada um por si. No mundo humano também, a cultura é que finge não ser. Mas acreditem no que eu digo, no fim é cada um por si. E você não está nem um pouco preparado para o fim sozinho se acha doloroso quando um amigo esquece seu nome, quando não te ligam depois do sexo, quando te assaltam e ninguém se importa ou se sua ficha para alugar um apartamento é reprovada. Melhor começar a se preparar. Se eu pudesse passar apenas uma ideia adiante, seria essa. Prepare-se. O fim vem.

1 de fevereiro de 2011

Simples

Vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia? Quanto menor a casinha, mais sincero o bom dia? Quanto mais simplicidade, melhor o nascer do dia? Mais mole a cama em que durmo, mais duro o chão que eu piso?

25 de janeiro de 2011

Membros do júri

A coroa não é minha e eu não quero devolvê-la. O tribunal chamou de “paixão”. Uma por uma, as condições mudam. Quando acabarão os dias de batalhas compartilhadas e de omissões diante do inferno sexy? Uma doce companhia, uma constante companhia, eu renuncio meu nome: torturador profissional.

23 de janeiro de 2011

Shh

22 de janeiro de 2011

O amante

Além do acasalamento, há este outro abraço, que é um enlaçamento imóvel: estamos encantados, enfeitiçados: estamos no sono, sem dormir; estamos na volúpia infantil do adormecer: é o momento das histórias contadas, o momento da voz, que vem me hipnotizar, me siderar, é o retorno à mãe.

Contudo, durante esse abraço infantil, o genital acaba irremediavelmente por surgir; ele corta a sensualidade difusa do abraço incestuoso; a lógica do desejo põe-se em marcha, o querer-possuir retorna, o adulto se justapõe à criança. Sou então dois sujeitos ao mesmo tempo: quero a maternidade e a genitalidade.

O amante poderia ser assim definido: uma criança de pau duro.

– Barthes

21 de janeiro de 2011

Deixe isso pra depois

Readers Digest
Guy Lombardo
Rogers Peet
Golf!
Galoshes
Ovaltine!
Pot roast
Headache
A baby
Two
Six
Nine!
STOP!

12 de janeiro de 2011

I yelled back

For a while while I’m speaking, you know how much I hate to be interrupted, maybe spend some time alone. Fill up your proverbial cup so that it doesn't always have to be about you. I've been wanting your undivided attention, I like the fact that you're nothing like me. Unfortunately, you needed a health scare to reprioritize.

"Raise the roof", he yelled. "Yeah, raise the roof!", I yelled back

3 de janeiro de 2011

O que explodiu e expirou


Época daquele balanço de final de ano e de ano novo. Odeio isso. É meio que inevitável e me deprime, pois sou pessimista e, olhando pra trás – ou pra frente ou pro lado – só vejo merda.Muita coisa explodiu e muita coisa expirou, e a conclusão é que não soube lidar e planejar bem com nada do que me foi retirado ou caiu no colo.

Ano passado fiz coisas que sonhava, como sair de casa, mas aí dei de cara com muitos conflitos também. Com amigos, comigo mesmo, com meu emprego. Reavaliei e chutei e fiz emendas e moratórias em muitas coisas, ações e pessoas. Me desviei de conceitos e valores que prometi manter comigo pois me faziam bem. Comecei a beber bem mais e fumei um pouco.

Me sinto muito amargo hoje em dia. Cheguei bem perto de mim mesmo e não sei se consigo fingir não ser assim. Quero dizer, sempre tive uma certa habilidade para disfarçar que tinha antipatia de alguém, por exemplo. Afinal, às vezes a pessoa nem tem culpa, nem faz nada de propósito. É isso que não estou conseguindo mais. Minha falta de ânimo nas relações com as pessoas é notável e indiscutível. Quero me isolar e não sou ninguém grande o suficiente para me isolar e conseguir, ao mesmo tempo, me manter são – no sentido “vivo” da palavra, no sentido “tendo dinheiro para pagar o aluguel”. Foram muitos projetos engavetados novamente e adiados novamente – intocados no ano que passou. Muita dúvida, muita mágoa, muitos fantasmas.

Talvez tenha sido menor do que pareceu, mas é que eu sofro calado. Calado demais. Eis outro problema. Acho tão chato ouvir o problema dos outros que acho que, ao compartilhar os meus, também estou chateado todos ao redor. E vou engolindo as coisas e devolvendo ao mundo da maneira errada. Dúvidas, traições e desculpas esfarrapas para mim mesmo. E me acho sensível demais a certas palavras e quero que vejam isso como traço da minha personalidade, e não exclusivamente da minha orientação. Sofro calado pois não suporto a ideia de pedir ajuda às vezes. Nos outros não, mas em mim vejo como sinal de fraqueza e incompetência.

Me sinto esvaziado, expirado. Não consigo sentir o cheiro das mudanças. Só sinto cheiro de mofo e de porra seca. Eu não sinto mais a urgência de dizer o que eu sinto, eu quero ficar calado e eu quero que leiam meus pensamentos.

1 de janeiro de 2011