29 de agosto de 2010

Vomitando pistache

Se tem uma coisa que me enlouquece na sociedade em que vivo é o excesso de certezas, pois elas são fúteis. As pessoas não têm certeza do que são e do que querem, mas dizem que têm certeza do que dizem e gostam antes mesmo de tê-las. A única certeza é a dúvida; não há nada mais chato do que receber um "com certeza" como resposta para perguntas banais. "O bar fecha às 23h?" "Com certeza". O que aconteceu com a dúvida, com a incerteza, com a hesitação? Você não pode ter certeza, de antemão, de nada. Da durabilidade das suas coisas, das então chamadas amizades. Nem certeza de que seu sorvete favorito é o melhor do mundo - pois você não experimentou todos, certo? Também por não ter experimentado todos os sorvetes do mundo, você não pode afirmar que pistache é o pior deles. Mas pode já ter certeza de que dele você não gosta.

E, devo dizer, eu julgo quem toma sorvete de pistache. Principalmente depois de ter discursado para os quatro ventos que não gosta dele.

19 de agosto de 2010

Você não quer dividir a culpa?

Gritando: Não sei como as pessoas não ficam loucas, pois pensar pode ser estressante. Por isso tanta gente é tranquila, pois são burras e não pensam e não se cansam e não pensam em suicídio. Eu não sei me articular na maior parte das vezes e fico achando que é porque preferi zerar aquele vídeo game do que ler aquele livro quando estava na segunda série e que eu devia ler ainda mais hoje em dia. Ler mais clássicos. Talvez um dicionário. Tento falar o que penso, mas meu pensamento muda todo dia. Eu quero muito viajar, viajar muito. Egito, Israel, Amsterdã, Tóquio, Londres. Mas eu tenho um desejo secreto de conhecer tudo primeiro e sozinho para, na segunda visita, saber mais sobre o lugar do que as pessoas que estão comigo. E isso é estúpido e egoísta, mas talvez eu seja mesmo esses dois adjetivos. E eu gosto de andar sozinho, e eu gosto de cachorros e eu gosto de passear com cachorro. Eu morava numa casa de subúrbio perto de um restaurante engraçado, onde faziam de cômodo um vagão de trem antigo e era lindo e sujo. Lembro de ver baratas por lá. E eu queria poder gritar, mas gosto de ficar em silêncio as vezes. Mas é que eu falo muito e, quando estou calado, acham que estou triste. Mas a regra é mais o contrário disso – se é que existe alguma regra bom humor versus quantidade de palavras por minuto. E tenho vontade de cantar em voz alta dentro de ônibus vazios, mas nunca na rua deserta, pois acho que na rua vou atrair a atenção de algum possível assaltante que estava escondido e distraído. Você não quer dividir a culpa?

11 de agosto de 2010

As folhas de chá

Não tenha vergonha de desafiá-las - afinal, estão se esgotando as maneiras diferentes de dizer a mesma coisa.

4 de agosto de 2010

Go by the saying

There is an old english saying that goes: "If the shoe fits, wear it". Everybody's so great and cool and friendly until, one day, they're not. I mean, that's ok, cuz life's like that. I'm just glad to know now, with all my heart, that the ugliest truth is better tham the most beautiful lie. So they call me stuck up, but I'm just going by the saying! If the shoe fits, wear it, bitch.

1 de agosto de 2010

Coisas

Arrumar armário é diferente de arrumar armário prestes a mudar de casa. Eu joguei tanta coisa fora ontem! Mil coisas que achei que ia guardar pra sempre, que achei que fariam sentido ainda ter um dia, sabe? Mas todas viraram apenas coisas que rasguei bem rasgadinho ontem.

Mudança

Estou de mudança. Na verdade sempre estive, sempre estamos. A gente muda o tempo todo, mas agora é hora de ser literal. Eu vou sair do meu quarto, desse apartamento, desse bairro. Talvez você não se lembre, mas esse é um dos meus sonhos desde que eu tinha 8 anos. Devo ter mencionado em alguma conversa existencial imbecil minha.

Não sei por que te escrevo, não sei nem se vou enviar isso. Mas é que o alívio é tão grande que eu preciso comunicá-lo a você. Chega de ficar tenso toda vez que coloco o pé pra fora de casa ou dou sinal para aquele ônibus. É muito torturante viver tão perto de alguém que partiu seu coração.

Acho que eu deixei bem claro para você o quanto eu lhe gostava. E é por isso que eu não entendo o que aconteceu. Foi pouco tempo, mas a falta de satisfação simplesmente arruinou o resto da minha vida. Vê-lo com outras pessoas, por exemplo, me doía. Na minha confusa mente, sua capacidade de levar adiante qualquer coisa com alguém provava que você não tinha problemas com relacionamentos. Tinha problemas comigo.

E eu repassei tudo na minha cabeça, pensando onde eu errei.

Eu ficava entorpecido sobre o assunto. Mas, de vez em quando, eu abraçava meus joelhos à noite na vã esperança de um telefonema. Não necessariamente uma declaração, um pedido pra voltar, um desabafo. Apenas um pedido de desculpas.

Claro que isso foi quando a auto-sabotagem acabou. Pois antes disso tinha uma voz na minha cabeça te defendendo. “Ah, mas ele não sabe o quanto você gosta dele. Ele não tem idéia. Você está sofrendo por causa dele, mas ele não faz idéia. Não culpe o menino”. Mas essa voz, mesmo que teoricamente e tecnicamente estivesse certa, foi se calando.

E a partir daí, ladeira abaixo. Foram várias pessoas, estradas e corações. Buscando alguém igual você ou extremamente diferente, sempre em cheio na direção do fracasso. Todos irrelevantes agora, assim como eu sou para você.

Eu não consigo acreditar que, no seu livro, eu sou aquela página que ficou borrada de café antes de ser lida. Aí você lê rápido, pois quer se livrar dela logo, daquelas ranhuras e de todo aquele papel curvado. Não que isso seja novidade, mas o texto ali é tão importante quanto qualquer outro e merecia ter sido lido com afinco. Não como se fosse inferior nem superior. As páginas dos livros, todas elas, querem essa justiça. Você devia ter dado isso a elas. Mas agora não adianta, não é? Você já terminou esse livro e está em outro. Talvez ainda outro. A mancha que se foda. Fechados e empilhados, os livros são iguais. E nossa capa não faz jus ao conteúdo.

Odeio receber e-mails longos com desabafos (sim, já aconteceu comigo), mas isso faz muito bem para quem escreve. Dá uma sensação de ponto final. E é disso que eu preciso. Você ter terminado tudo da maneira que fez, me mistura a sensação de que você me odeia com a de que é tudo uma pausa, que uma hora vamos retomar de onde paramos. E eu não posso acreditar nisso, eu preciso ir pra frente.

Aliás, esse e-mail está especialmente longo. Você provavelmente não chegou até aqui. Posso começar a falar idiotices, como a cor das minhas novas paredes ou o último CD que baixei. Me lembra Miranda July no filme “Eu, Você e Todos Nós” (sua cara, já assistiu?), onde ela pede pra moça do museu lhe telefonar e dizer “macarrão” caso tenha visto certa fita VHS até o final. E eu bem gostaria de saber o quão fundo você foi nesse texto. Um sinal pode até vir, mas não vou esperar nenhum “macarrão” seu. Não mais.

Soldado, você tem permissão para se retirar.

Texto de 2007