29 de junho de 2008

Em nível de alma

Pois as pessoas associam casamento e amor verdadeiro a romance. Mandar flores, jantares românticos à luz de velas ou coisas mais profundas, como trazer filhos ao mundo. Mas romance vai e volta, não? Uma hora seu marido ou sua esposa são melhores amigos e outra hora eles estão na casa do cachorro, né? E eu não acho que é nada disso. O que faz um casamento funcionar é a habilidade de um amar o outro incondicionalmente. E é a coisa mais difícil do mundo. Não há nada de romântico em amar alguém incondicionalmente. É um trabalho duro. É como o pastor da minha igreja disse no sermão. Ele não tem motivos para amar sua esposa, ele a ama porque ama. Pois com “motivos” você quer dizer os motivos exteriores. Não é porque ela é bonita, talentosa, nenhuma dessas coisas físicas. É só porque ele a ama. Isso é amor em nível de alma.

- "The View"

22 de junho de 2008

Vida nova, amém.

Eu ando com o amor tatuado nas costas e uma vida nova tatuada na perna. Eu já sei sobre minha devoção a Deus, meu papel no planeta, sobre o sim e o não. Sei pular de ponta e ficar parado. Sei que sou o que sou, que sou coisas que não sei, que não sou o que não sou. Meus gostos, minhas aflições, minhas alergias. Eu te quero do meu lado agora. Pra firmar raízes em algum lugar, fazer um voto a mim mesmo, chamar minha casa de lar. Pra raiz ser nossa, pro meu voto ser pra você, pra ser nosso esse lar. Caixas gigantes cheias de coisas. Nada precioso e tudo sagrado. Eu estou pronto pra sair do limbo.

- Baseado em "Limbo No More", Alanis Morissette

18 de junho de 2008

Logo eu

Ausência interior exterior. Nariz em pé pela rua, risadas altas em bares, piadas boas no horário de almoço. Mas eu acredito em mim mesmo? Tenho achado que não. Como é complexo isso. Eu não acredito em elogios que me são feitos, pois acho todos parciais. Mas pode algum não ser? Eu me sinto facilmente ameaçado, pois não estou à altura de ninguém. O outro sempre é mais que eu; mais bonito, inteligente, atraente, engraçado, atencioso, rico, perspicaz, engraçado. Não acho que meus agrados preenchem o tanto de espaço que imagino que deviam preencher e me culpo por isso. Eu espero calado por sinais de que eu esteja errado, mas com medo deles não serem confiáveis por terem sido, de certa forma, plantados por mim. De onde vem essa minha necessidade de aprovação? De onde vem tanta culpa? Me dá um aperto gelado no peito e eu penso em coisas abstratas – como no inútil design aerodinâmico das caixas de som do computador – para evitar que lágrimas apareçam. Eu não sou tão incompetente assim, tão feio assim, tão ignorante assim. Por que preciso de provas? Porque dependem de terceiros? Eu, logo eu, que sempre assinei meus conselhos para amigos com a frase “não coloque sua felicidade na mão de outras pessoas. Se elas tiverem o pode de te fazer bem, também terão o de te fazer mal”. Logo eu...

5 de junho de 2008

Do fim

“Como você se despede de alguém que achava que não podia viver sem?”, pergunta-me Norah Jones em “Um Beijo Roubado”. “Eu não te amo mais. Adeus”, responde Natalie Portmam, em “Closer”. E eu adiciono: é isso mesmo.

Sua vida vai mudar completamente, rumos que você não tinha nem imaginado. Terminar um relacionamento com quem você achava que era sua alma gêmea muda sua vida, sua maneira de ver as coisas e as pessoas. Eu falo por experiência.

O começo é a pior parte. Eu precisei de cafunés de uma amiga e muita comida gordurosa. Dormimos abraçados. Eu tinha lágrimas no rosto e cheiro de Cheddar com batata frita na boca. O mês seguinte foi o mais cinza de todos, meio borrado, não fez muito sentido e passei por ele meio entorpecido e tentando me elevar. Fingir que está bem dá a sensação que ficarei mais rápido. Não funciona sempre, claro. Você vira um balão e esse fingimento te enche de ar. Aí, você ouve o nome da pessoa ou vê ela na rua de dentro do ônibus e uma agulha te espeta bem no meio e você solta todo o seu ar e, antes de murchar e parar no chão, fica rodopiando pelo cômodo.

Aí, passa. Nas histórias que ouço, os amigos se dividem entre as partes do ex-casal ou tentam equilibrar as coisas incluindo cada hora um em seus programas. Comigo não foi assim. “Perder” é uma palavra forte, mas foi o que praticamente aconteceu com quase metade dos meus. A carência nesse momento é bem forte. São perdas maiores do que você tinha percebido.

Aí, passa. E você encontra esperança em romances curtos, em ver que você ainda é desejável, em sexo casual e banhos longos. E você lembra daqueles amigos que você via com menos freqüência. Eles ganham mais importância enquanto você caminha com eles e redescobre os talentos deles, a generosidade deles, as psicoses deles. Você está confortável novamente. Não que o mundo seja melhor, mas você vê a sacralidade do mundo novamente.

E você tem as recaídas. Mas elas não têm mais o rosto do antigo amor. São mais por não ter um rosto substituto. E você espera e espera. Romances curtos, sexo casual e banhos longos não fazem mais efeito. Você anda sozinho pela rua de nariz empinado, mas dorme abraçando seus joelhos. Alguns amigos voltam. Lentamente, bem diferentes, mas voltam. Você os perdoa, você perdoa todos. Mas não adianta, tudo mudou e em breve eles irão sumir de novo, por outros motivos. São caminhos diferentes e você deve aceitar isso. Quem sabe o ponto de chegada seja o mesmo? Mas só te resta torcer.

Você come coisas saudáveis agora e ouve baladas mid-tempo de noite. Sai de casa e bebe as vezes. Sorri mais. Revê seus filmes favoritos, aprecia mais suas cobertas vazias cheias de você. Volta a fazer a barba todos os dias e a usar meias limpas. Se pega gritando o refrão de uma música numa noite sozinho em casa. Quase engasga quando abstrai e percebe: você superou. A pessoa e você. Você se superou.

Pessoas passam, estradas passam. Quando você menos espera, de onde você menos espera, surge um outro alguém – é, a felicidade nos vulgariza e a vida é mesmo um clichê. Não necessariamente na ordem apresentada aqui, sobe e desce sem parar a sua esperança na vida, no amor, na humanidade e na monogamia. O equilíbrio vai vir com alguém que vai te encher de amor e você vai sucumbir às grandes máximas da vida familiar sem perceber. E vai ser feliz.