20 de setembro de 2007

Animais

Agora que estou só eu sinto a solidão de toda esquina de avenida na qual eu vendi o meu amor. Todos os momentos de humildade que se transformaram em humilhação. E eu fico achando que estou mesmo é à espera de um eclipse solar. Mas é que sempre que eu acordo com o copo metade vazio eu o preencho com lágrimas.

Ele é minha pomba escondida na escuridão e eu não posso quebrá-lo como uma camada de diamante, não posso furtá-lo como um assaltante, mas também não posso virar uma memória pornográfica com marcas de choro e de tabaco.

É um pequeno desastre, do tamanho da era glacial. Não sei se dinossauros assim teriam sobrevivido (ou índios ou borboletas). Eu evitava que tivesse contato com meu espírito com medo dele ser tão frágil quanto uma folha de outono queimando como papel.

Eu sempre soube que passaria muito tempo sozinho. Ninguém ia me entender, mas talvez eu devesse ir e morar junto aos animais. Passar todo o meu tempo ao lado deles. E os únicos caminhos me levariam ao mar.

Eu sou apenas uma folha de outono, algo simples e vergonhoso assim. É assim que meu coração se descreve ao lado do passeio: um perfumado restaurante vazio cheio de balões. E eu sento e entretenho todas as bizarras fantasmagorias da minha alma.

O nome dele ainda permanece e entorpece minha língua. Talvez seja só a vontade de um novo destino. Um que, mesmo miserável, seja meu. Ele me lembrava alguém de algum filme antiguinho, desses que há sempre uma moça calada e desesperada por amor.
Um dia em breve meu irmão vai morrer e me fazer lembrar de todo o tempo subordinado que eu neguei. E talvez eu tenha mentido quando disse que estava bem, estava apenas me adequando, seguindo o cotidiano. É como uma música infantil que você decora e não presta mais atenção na letra.