29 de dezembro de 2008

Mais forte que Jesus

Esqueça o que sua mãe ensinou. Não dá pra resistir aos marinheiros e soldados. Enfrente tudo, guerras e perdas. Você sabe que o amor pode te matar como uma arma de fogo. Quem te disse que o amor era o alfa e o ômega? É uma maldição, é o martelo que vai te quebrar. É um veneno dentro de um bom-bom. Você não sabia que o amor é mais forte que Jesus? Você não sabia que o amor pode matar qualquer um?

- Stronger Than Jesus

28 de dezembro de 2008

Sensível

Não é que eu seja exigente. Tampouco é frescura. As pessoas são diferentes e eu sou sensível. Mas, olha, longe de mim de achar isso poético. Às vezes me é quase um defeito. Ninguém é perfeito e ser sensível pode ser um saco. Fico sensibilizado com coisas pequenas, vejo significados ocultos em coisas que não eram pra dizer nada. Me ofendo com certos elogios e me sinto bem com certos xingos. Ok, até aí deve ser normal. Mas o negócio é que me vejo em berlindas onde ser sensível é muito chato. Especialmente por ser gay. Uma coisa não é, nem deve ser, sinônima da outra. Afinal, existem inúmeros tipos de gays e inúmeros tipos de sensibilidades. Mas toda a humanidade tem uma interseção invisível em certos tipos de sentimentos. E elas são minhas armadilhas. Então preciso ser forte em momentos terríveis só para não presenciar sequer o início de um pensamento do tipo “ah, ta fazendo assim porque é viado”. E eu sofro. É uma mistura alucinada da vontade de seguir provando nada a ninguém com a vontade de mostrar como nem todo mundo é como imaginam que sejam. Fez sentido isso? Não importa. Uma coisa não é opção e a outra é cem por cento escolha minha. E por mais doloroso que seja as vezes, escolho ser assim. Eu não vou deixar pra lá, mas não sei como fazer. Preciso é de alguém pra me amar, aceitar e quietar.

16 de dezembro de 2008

Mutilação prática

Não quero que você me reconheça pela minha beleza. Ela é relativa e, assim, de acordo com os conceitos de muitos e de acordo com os meus, não sou belo. Aliás, sou. Pois aprendi na porrada que belo não é algo esteticamente simétrico, é algo que mexe com você, que emociona – para o bem ou para o mal. Assim, uma pintura pode ser tão bela quanto o bizarro e o grotesco. Acontece que cada coisa mexe com outra coisa na gente. Então prefiro acreditar que, pelo menos belo, eu sou. Mas não era esse o assunto. O negócio é que não dá pra usar suas idéias do lado de fora e você acaba sendo julgado pela sua aparência. Bom, é isso que dizem. Mas é uma merda de um papo furado isso. As estampas das suas blusas dizem sobre você e seu corte de cabelo também. É fácil fingir ser algo que não é, admito. Mas é fácil em igual quantidade mostrar quem você é. O problema é o de ser mal interpretado. Daí o que fazer? Se incognitar. Essa palavra não existe, mas vou explicá-la com um exemplo: a mutilação que é uma pessoa que raspa os cabelos, pois não quer ser reconhecida por eles ou pelo que eles significam em lugar nenhum.

Sem contar que é mais prático também.

14 de dezembro de 2008

Que bobagem

É bem provável que não exista nada que o incomode mais do que pessoas com pêlos na orelha. Como pode um sujeito vê-las assim e não fazer nada a respeito? Muita gente assim já tinha passado pela sua frente e pela sua vida, mas a pessoa em questão era um subalterno, o caixa de supermercado que, por um descuido estúpido, passou na registradora o pacote de Doritos três vezes. Em que mundo uma pessoa come três pacotes de Doritos sozinha?

Estranho como uma coisa tão insignificante serve como a gota d’água para genocídios e injustiças globais. Mas serve. O sangue lhe ferveu e, ao invés de mandar o gerente tomar no cu, teve outra idéia.

Terminou a carta e tirou os óculos. Ponderou um pouco e resolveu manter seus sapatos. Subiu as escadas e abriu, com certa dificuldade, a porta que ninguém abria. Lá, no teto, havia muita sujeira, grandes antenas e dois ninhos de pombos, que saíram voando ao vê-lo. O céu parecia estar mexendo sozinho, deu-lhe uma ponta de vertigem. Mas ignorou olhando para os próprios pés. Não é uma vertigenzinha que vai me impedir de fazer isso, pensou enquanto caminhava para a borda, e pulou.

2 de dezembro de 2008

Sobre elogios e chão em retrospecto

Até que ponto um elogio é confiável? As coisas são relativas e as pessoas são diferentes e, para o bem ou para o mal, essas características do mundo não andam em equilíbrio.

Pense nas pessoas mais feias que conhece; alguém as diz que são belas. Pense no pior amante que teve; alguém dorme com ele. Tudo que julgo em voz alta me repele e me atrai. E não consigo evitar pois me irrito com meu silêncio.

Sabe quando você tem todo o espaço do mundo e a poltrona mais peluda mas prefere sentar no chão? Certas coisas ficam mais saborosas se eu comê-las sentado no chão. Certos textos saem melhores no chão. Certas pessoas são melhores no chão.

Até que ponto um elogio é confiável? Não dá para tocar a vida com a certeza de que sempre serei o que sou ou o que acho que sou ou o que me dizem que sou – tampouco achando que continuarei não sendo o que não sou hoje.

As coisas são relativas, as pessoas são diferentes e não há equilíbrio algum em nada.