1 de maio de 2008

Superstar da psique.

A questão é que eu sou um suburbano, pronto! Um homem que, quando criança, brincava de submarino em piscina de 1000 litros. Um homem que lambe a tampa do iogurte. Um homem que tem um pai que teve um Fiat 147 amarelo. Uma "suburbanice" sem precedentes. Mas não há nada de errado em ser um suburbano. O negócio é que você jamais consegue deixar de ser um deles. Reconhecível em qualquer lugar do mundo! Você faz parte da zona franca. Você tem aquele galo que muda de cores em cima da sua cabeça. A verdade fudida é que eu tinha vergonha dos meus pais. Sempre tive. Agora que a vida está do jeito que está, eu devo confessar isso. Mas qual foi o instante em que eu achei que era diferente deles? Esse Fiat precisa ser enterrado. Porque aqui, ou você coloca o Fiat parada na frente da sua casa e com orgulho o lava todos os sábados ou você carrega o Fiat escondida na alma. Que bosta de vida é essa cujo maior trauma não chega aos pés dos traumas de verdade? Afinal, o que é o trauma de não ter ganhado aquele tênis com luzinha na sola comparado com as criancinhas africanas que não têm dentes pra escovar? É, talvez dentro do meu contexto social eu seja uma pessoa de traumas. Mas, fala sério, não sou um superstar da psique.

- Com fragmentos de "Piscina", Fernanda Young