30 de dezembro de 2010
5 de dezembro de 2010
4 de dezembro de 2010
28 de novembro de 2010
Amor, você é uma prostituta
No intervalo entre se render e a notícia chegar até o governo rival, demorava-se tanto que, muitas vezes, vidas eram perdidas. O rei de Portugal teve que esperar meses para ler o que Caminha tinha para dizer sobre o Brasil. E lá se foram 70 páginas, frente e verso, apenas para dizer que aqui era cheio de gente pelada, de árvores e quente como o cão.
E cá estamos nós, muito anos depois, emputecidos porque a mensagem de celular que enviamos há 10 minutos ainda não foi respondida. Cada vez que uso algum, concluo: os novos meios de comunicação instantânea são ótimos, mas não nos ajudaram a nos comunicar melhor.
E não é preciso explicar muito, é? E-mails enviados para pessoas erradas, SMSs com remetente oculto, indiretas pelo Twitter que ofendem quem não tem nada a ver com a história, escrever o texto certo na janela errada do MSN. Quem nunca passou por uma dessas coisas?
“Meu vizinho, minha avó e meu tio, que não sabem mexer na internet”, você responderá. Ok, mas será? Quer dizer, aquele suspiro alto que sua mãe dá numa mesa com os amigos chatos do seu pai, não é o sinal dela de quem quer ir embora? Aquele bocejo forçado, aquele olho falsamente fechando. Por que não podemos ser honestos uns com os outros? Por que existem sinais complicados de serem interpretados...?
E cá estamos nós, muito anos depois, emputecidos porque a mensagem de celular que enviamos há 10 minutos ainda não foi respondida. Cada vez que uso algum, concluo: os novos meios de comunicação instantânea são ótimos, mas não nos ajudaram a nos comunicar melhor.
E não é preciso explicar muito, é? E-mails enviados para pessoas erradas, SMSs com remetente oculto, indiretas pelo Twitter que ofendem quem não tem nada a ver com a história, escrever o texto certo na janela errada do MSN. Quem nunca passou por uma dessas coisas?
“Meu vizinho, minha avó e meu tio, que não sabem mexer na internet”, você responderá. Ok, mas será? Quer dizer, aquele suspiro alto que sua mãe dá numa mesa com os amigos chatos do seu pai, não é o sinal dela de quem quer ir embora? Aquele bocejo forçado, aquele olho falsamente fechando. Por que não podemos ser honestos uns com os outros? Por que existem sinais complicados de serem interpretados...?
24 de novembro de 2010
2 de novembro de 2010
Belinda
Every night around this time he has to sing "Belinda"
“Belinda, I love you, don’t leave me, I need you”
He tried to stop a while back but what is he without her?
A one hit wonder with no hits is what he is
And anyway he always hears how much it means to people. There’s a lot of fortysomethings who wouldn’t be in the world without it. So now he does it with this lyric in his head:
"Belinda, I loved you, I’m sorry that I left you. I met somebody younger on a plane. She had big breasts, a nice smile, no kids either. She gave me complimentary champagne"
No-one ever wants to hear the song he wrote for Cindy
“Cindy, I love you, I need you, don’t leave me”
And he can’t blame them, they can tell his heart was never in it
And Cindy never liked it but she never much liked him
So every night about this time he feels the old self loathing while the old folks in the audience sing along. And he smiles and waves the mic at them - so they can do the chorus. But he’s not there, he’s somewhere else
He’s with Belinda in the days before he made it all go wrong
Belinda, I love you. She gave me complimentary champagne
“Belinda, I love you, don’t leave me, I need you”
He tried to stop a while back but what is he without her?
A one hit wonder with no hits is what he is
And anyway he always hears how much it means to people. There’s a lot of fortysomethings who wouldn’t be in the world without it. So now he does it with this lyric in his head:
"Belinda, I loved you, I’m sorry that I left you. I met somebody younger on a plane. She had big breasts, a nice smile, no kids either. She gave me complimentary champagne"
No-one ever wants to hear the song he wrote for Cindy
“Cindy, I love you, I need you, don’t leave me”
And he can’t blame them, they can tell his heart was never in it
And Cindy never liked it but she never much liked him
So every night about this time he feels the old self loathing while the old folks in the audience sing along. And he smiles and waves the mic at them - so they can do the chorus. But he’s not there, he’s somewhere else
He’s with Belinda in the days before he made it all go wrong
Belinda, I love you. She gave me complimentary champagne
Ben Folds/Nick Hornby
19 de outubro de 2010
18 de outubro de 2010
Mais
Era uma vez uma época em que eu tinha fartura de nada. Mas não tinha problema. Então se passaram os anos e agora eu tenho fartura de fartura. O que está ótimo para mim. Mas estou tão feliz com o que tenho que quero mais. Conte suas bênçãos, uma, duas, três. Eu detesto ficar contando, qualquer número está ótimo para mim contanto que seja mais. "Mais" é melhor do que "nada" e nada é melhor que "mais". Exceto "tudo". Mas ter tudo é ruim pois, aí, você vai sentir falta de desejar mais.
14 de outubro de 2010
Naturalmente
Por ouvir minhas dúvidas de forma tão seletiva, por deixar os outros decidirem o que penso de mim, por deixar meu amor próprio ser tão vergonhosamente condicional, por me negar para que pudéssemos ser compatíveis, por tentar colocar um retângulo num círculo, por colocar em mim a culpa da infelicidade alheia, por ignorar os sinais de que eu não estava pronto, por querer estar onde você queria que eu estivesse, por me dissociar do meu corpo, por ignorar minhas vozes mais altas. Para quem devo minhas maiores desculpas? A mim. Ninguém é mais cruel comigo do que eu mesmo. E quando penso em qual crime é maior – esquecer de mim ou esquecer de você – vejo que, entre sabedoria e atraso, teria naturalmente adorado a primeira opção.
17 de setembro de 2010
Não-pertencimento
Talvez uma das piores sensações seja a de não-pertencimento. É com isso que Sofia Coppola trabalha tão bem em “Maria Antonieta” e “Encontros e Desencontros”, com a sensação de não pertencer ao homem que é casada, não pertencer a sua família, não pertencer ao seu corpo, não pertencer ao seu grupo de amigos, não pertencer ao lugar onde vive.
E é bem capaz de você já ter entrado em contato algum grupo de pessoas que te fez pensar “eu quero estar aqui” e também com um que te fez pensar “eu nunca estarei aqui”. Talvez um mesmo grupo tenha despertado as duas coisas em você.
Seja quando você se achava um perdedor na 6ª série, seja quando você percebeu que todos os seus amigos são milionários, seja quando você percebeu que preferia ouvir uma música diferente das pessoas ao redor. Durante a vida, eu acho que a gente passa por fases – se é que existem fases – e acabamos de cara com uma série de grupos e conglomerados sociais dos quais nunca conseguiremos pertencer.
Eu sempre me fantasiei uma pessoa que não tem dessas coisas – mas elas nunca estiveram tão claras para mim como agora. Eu me peguei pensando essa semana que, definitivamente, eu não pertenço e provavelmente nunca pertencerei a um grupo que eu admiro – que às vezes eu acho idiota, mas admiro. Eu simplesmente não acompanho. Talvez eu até gostaria de acompanhar, mas não rola. Não é algo que depende apenas de mim, e quando o controle está fora de nossas mãos é isso que acontece...
E é bem capaz de você já ter entrado em contato algum grupo de pessoas que te fez pensar “eu quero estar aqui” e também com um que te fez pensar “eu nunca estarei aqui”. Talvez um mesmo grupo tenha despertado as duas coisas em você.
Seja quando você se achava um perdedor na 6ª série, seja quando você percebeu que todos os seus amigos são milionários, seja quando você percebeu que preferia ouvir uma música diferente das pessoas ao redor. Durante a vida, eu acho que a gente passa por fases – se é que existem fases – e acabamos de cara com uma série de grupos e conglomerados sociais dos quais nunca conseguiremos pertencer.
Eu sempre me fantasiei uma pessoa que não tem dessas coisas – mas elas nunca estiveram tão claras para mim como agora. Eu me peguei pensando essa semana que, definitivamente, eu não pertenço e provavelmente nunca pertencerei a um grupo que eu admiro – que às vezes eu acho idiota, mas admiro. Eu simplesmente não acompanho. Talvez eu até gostaria de acompanhar, mas não rola. Não é algo que depende apenas de mim, e quando o controle está fora de nossas mãos é isso que acontece...
11 de setembro de 2010
Quando serei
O problema é que eu pouso minha felicidade no futuro. Sempre me vejo fazendo planos de felicidade no futuro. Deposito sempre em algo que não aconteceu; digo "quando eu fizer tal coisa, serei feliz", "quando comprar tal coisa, serei feliz", "quando sentir tal coisa, serei feliz". E se tenho algum medo nessa vida, é a de estar no meu leito de morte pensando em como, ao fazer isso, perdi o momento presente e deixei de viver achando que, logo logo, minha vida começaria.
3 de setembro de 2010
Você ainda está bravo?
Você ainda está bravo por eu ter lhe chutado para fora da cama? Você ainda está bravo por eu ter lhe dado ultimatos? Você ainda está bravo por eu ter lhe comparado a todos os meus amigos homens de quarenta anos? Você ainda está bravo por eu ter tentado moldá-lo como eu gostaria que você fosse? Você ainda está bravo por eu ter tentado moldá-lo como eu gostaria que você fosse? Você ainda está bravo por eu ter compartilhado nossos problemas? Você ainda está bravo por eu ter tido um caso emocional? Você ainda está bravo por eu ter flertado de forma selvagem? Você ainda está bravo porque eu ter tentado te criar? Você ainda está bravo por eu ter estado em dúvida? Você ainda está bravo porque dormimos juntos mesmo após termos terminado? Você ainda está bravo por eu estar de calça a maior parte do tempo? Você ainda está bravo por eu parecer focar somente no seu potencial? Você ainda está bravo por eu ter jogado a toalha? Você ainda está bravo por eu ter desistido bem antes de você? É claro que você está, é claro que você está.
1 de setembro de 2010
Once upon a time
They couldn't take my loneliness
I couldn't take their phoniness
My mother had to go to work
I used to think she was a jerk
I didn't know her heart was broken
And not another word was spoken
And she became a shadow of
The mother I was dreaming of
I made a vow that I would never need another person
Ever turn my heart into a cage
A victim of a kind of rage
I couldn't take their phoniness
My mother had to go to work
I used to think she was a jerk
I didn't know her heart was broken
And not another word was spoken
And she became a shadow of
The mother I was dreaming of
I made a vow that I would never need another person
Ever turn my heart into a cage
A victim of a kind of rage
29 de agosto de 2010
Vomitando pistache
Se tem uma coisa que me enlouquece na sociedade em que vivo é o excesso de certezas, pois elas são fúteis. As pessoas não têm certeza do que são e do que querem, mas dizem que têm certeza do que dizem e gostam antes mesmo de tê-las. A única certeza é a dúvida; não há nada mais chato do que receber um "com certeza" como resposta para perguntas banais. "O bar fecha às 23h?" "Com certeza". O que aconteceu com a dúvida, com a incerteza, com a hesitação? Você não pode ter certeza, de antemão, de nada. Da durabilidade das suas coisas, das então chamadas amizades. Nem certeza de que seu sorvete favorito é o melhor do mundo - pois você não experimentou todos, certo? Também por não ter experimentado todos os sorvetes do mundo, você não pode afirmar que pistache é o pior deles. Mas pode já ter certeza de que dele você não gosta.
E, devo dizer, eu julgo quem toma sorvete de pistache. Principalmente depois de ter discursado para os quatro ventos que não gosta dele.
E, devo dizer, eu julgo quem toma sorvete de pistache. Principalmente depois de ter discursado para os quatro ventos que não gosta dele.
19 de agosto de 2010
Você não quer dividir a culpa?
Gritando: Não sei como as pessoas não ficam loucas, pois pensar pode ser estressante. Por isso tanta gente é tranquila, pois são burras e não pensam e não se cansam e não pensam em suicídio. Eu não sei me articular na maior parte das vezes e fico achando que é porque preferi zerar aquele vídeo game do que ler aquele livro quando estava na segunda série e que eu devia ler ainda mais hoje em dia. Ler mais clássicos. Talvez um dicionário. Tento falar o que penso, mas meu pensamento muda todo dia. Eu quero muito viajar, viajar muito. Egito, Israel, Amsterdã, Tóquio, Londres. Mas eu tenho um desejo secreto de conhecer tudo primeiro e sozinho para, na segunda visita, saber mais sobre o lugar do que as pessoas que estão comigo. E isso é estúpido e egoísta, mas talvez eu seja mesmo esses dois adjetivos. E eu gosto de andar sozinho, e eu gosto de cachorros e eu gosto de passear com cachorro. Eu morava numa casa de subúrbio perto de um restaurante engraçado, onde faziam de cômodo um vagão de trem antigo e era lindo e sujo. Lembro de ver baratas por lá. E eu queria poder gritar, mas gosto de ficar em silêncio as vezes. Mas é que eu falo muito e, quando estou calado, acham que estou triste. Mas a regra é mais o contrário disso – se é que existe alguma regra bom humor versus quantidade de palavras por minuto. E tenho vontade de cantar em voz alta dentro de ônibus vazios, mas nunca na rua deserta, pois acho que na rua vou atrair a atenção de algum possível assaltante que estava escondido e distraído. Você não quer dividir a culpa?
11 de agosto de 2010
As folhas de chá
Não tenha vergonha de desafiá-las - afinal, estão se esgotando as maneiras diferentes de dizer a mesma coisa.
4 de agosto de 2010
Go by the saying
There is an old english saying that goes: "If the shoe fits, wear it". Everybody's so great and cool and friendly until, one day, they're not. I mean, that's ok, cuz life's like that. I'm just glad to know now, with all my heart, that the ugliest truth is better tham the most beautiful lie. So they call me stuck up, but I'm just going by the saying! If the shoe fits, wear it, bitch.
1 de agosto de 2010
Coisas
Arrumar armário é diferente de arrumar armário prestes a mudar de casa. Eu joguei tanta coisa fora ontem! Mil coisas que achei que ia guardar pra sempre, que achei que fariam sentido ainda ter um dia, sabe? Mas todas viraram apenas coisas que rasguei bem rasgadinho ontem.
Mudança
Estou de mudança. Na verdade sempre estive, sempre estamos. A gente muda o tempo todo, mas agora é hora de ser literal. Eu vou sair do meu quarto, desse apartamento, desse bairro. Talvez você não se lembre, mas esse é um dos meus sonhos desde que eu tinha 8 anos. Devo ter mencionado em alguma conversa existencial imbecil minha.
Não sei por que te escrevo, não sei nem se vou enviar isso. Mas é que o alívio é tão grande que eu preciso comunicá-lo a você. Chega de ficar tenso toda vez que coloco o pé pra fora de casa ou dou sinal para aquele ônibus. É muito torturante viver tão perto de alguém que partiu seu coração.
Acho que eu deixei bem claro para você o quanto eu lhe gostava. E é por isso que eu não entendo o que aconteceu. Foi pouco tempo, mas a falta de satisfação simplesmente arruinou o resto da minha vida. Vê-lo com outras pessoas, por exemplo, me doía. Na minha confusa mente, sua capacidade de levar adiante qualquer coisa com alguém provava que você não tinha problemas com relacionamentos. Tinha problemas comigo.
E eu repassei tudo na minha cabeça, pensando onde eu errei.
Eu ficava entorpecido sobre o assunto. Mas, de vez em quando, eu abraçava meus joelhos à noite na vã esperança de um telefonema. Não necessariamente uma declaração, um pedido pra voltar, um desabafo. Apenas um pedido de desculpas.
Claro que isso foi quando a auto-sabotagem acabou. Pois antes disso tinha uma voz na minha cabeça te defendendo. “Ah, mas ele não sabe o quanto você gosta dele. Ele não tem idéia. Você está sofrendo por causa dele, mas ele não faz idéia. Não culpe o menino”. Mas essa voz, mesmo que teoricamente e tecnicamente estivesse certa, foi se calando.
E a partir daí, ladeira abaixo. Foram várias pessoas, estradas e corações. Buscando alguém igual você ou extremamente diferente, sempre em cheio na direção do fracasso. Todos irrelevantes agora, assim como eu sou para você.
Eu não consigo acreditar que, no seu livro, eu sou aquela página que ficou borrada de café antes de ser lida. Aí você lê rápido, pois quer se livrar dela logo, daquelas ranhuras e de todo aquele papel curvado. Não que isso seja novidade, mas o texto ali é tão importante quanto qualquer outro e merecia ter sido lido com afinco. Não como se fosse inferior nem superior. As páginas dos livros, todas elas, querem essa justiça. Você devia ter dado isso a elas. Mas agora não adianta, não é? Você já terminou esse livro e está em outro. Talvez ainda outro. A mancha que se foda. Fechados e empilhados, os livros são iguais. E nossa capa não faz jus ao conteúdo.
Odeio receber e-mails longos com desabafos (sim, já aconteceu comigo), mas isso faz muito bem para quem escreve. Dá uma sensação de ponto final. E é disso que eu preciso. Você ter terminado tudo da maneira que fez, me mistura a sensação de que você me odeia com a de que é tudo uma pausa, que uma hora vamos retomar de onde paramos. E eu não posso acreditar nisso, eu preciso ir pra frente.
Aliás, esse e-mail está especialmente longo. Você provavelmente não chegou até aqui. Posso começar a falar idiotices, como a cor das minhas novas paredes ou o último CD que baixei. Me lembra Miranda July no filme “Eu, Você e Todos Nós” (sua cara, já assistiu?), onde ela pede pra moça do museu lhe telefonar e dizer “macarrão” caso tenha visto certa fita VHS até o final. E eu bem gostaria de saber o quão fundo você foi nesse texto. Um sinal pode até vir, mas não vou esperar nenhum “macarrão” seu. Não mais.
Soldado, você tem permissão para se retirar.
Não sei por que te escrevo, não sei nem se vou enviar isso. Mas é que o alívio é tão grande que eu preciso comunicá-lo a você. Chega de ficar tenso toda vez que coloco o pé pra fora de casa ou dou sinal para aquele ônibus. É muito torturante viver tão perto de alguém que partiu seu coração.
Acho que eu deixei bem claro para você o quanto eu lhe gostava. E é por isso que eu não entendo o que aconteceu. Foi pouco tempo, mas a falta de satisfação simplesmente arruinou o resto da minha vida. Vê-lo com outras pessoas, por exemplo, me doía. Na minha confusa mente, sua capacidade de levar adiante qualquer coisa com alguém provava que você não tinha problemas com relacionamentos. Tinha problemas comigo.
E eu repassei tudo na minha cabeça, pensando onde eu errei.
Eu ficava entorpecido sobre o assunto. Mas, de vez em quando, eu abraçava meus joelhos à noite na vã esperança de um telefonema. Não necessariamente uma declaração, um pedido pra voltar, um desabafo. Apenas um pedido de desculpas.
Claro que isso foi quando a auto-sabotagem acabou. Pois antes disso tinha uma voz na minha cabeça te defendendo. “Ah, mas ele não sabe o quanto você gosta dele. Ele não tem idéia. Você está sofrendo por causa dele, mas ele não faz idéia. Não culpe o menino”. Mas essa voz, mesmo que teoricamente e tecnicamente estivesse certa, foi se calando.
E a partir daí, ladeira abaixo. Foram várias pessoas, estradas e corações. Buscando alguém igual você ou extremamente diferente, sempre em cheio na direção do fracasso. Todos irrelevantes agora, assim como eu sou para você.
Eu não consigo acreditar que, no seu livro, eu sou aquela página que ficou borrada de café antes de ser lida. Aí você lê rápido, pois quer se livrar dela logo, daquelas ranhuras e de todo aquele papel curvado. Não que isso seja novidade, mas o texto ali é tão importante quanto qualquer outro e merecia ter sido lido com afinco. Não como se fosse inferior nem superior. As páginas dos livros, todas elas, querem essa justiça. Você devia ter dado isso a elas. Mas agora não adianta, não é? Você já terminou esse livro e está em outro. Talvez ainda outro. A mancha que se foda. Fechados e empilhados, os livros são iguais. E nossa capa não faz jus ao conteúdo.
Odeio receber e-mails longos com desabafos (sim, já aconteceu comigo), mas isso faz muito bem para quem escreve. Dá uma sensação de ponto final. E é disso que eu preciso. Você ter terminado tudo da maneira que fez, me mistura a sensação de que você me odeia com a de que é tudo uma pausa, que uma hora vamos retomar de onde paramos. E eu não posso acreditar nisso, eu preciso ir pra frente.
Aliás, esse e-mail está especialmente longo. Você provavelmente não chegou até aqui. Posso começar a falar idiotices, como a cor das minhas novas paredes ou o último CD que baixei. Me lembra Miranda July no filme “Eu, Você e Todos Nós” (sua cara, já assistiu?), onde ela pede pra moça do museu lhe telefonar e dizer “macarrão” caso tenha visto certa fita VHS até o final. E eu bem gostaria de saber o quão fundo você foi nesse texto. Um sinal pode até vir, mas não vou esperar nenhum “macarrão” seu. Não mais.
Soldado, você tem permissão para se retirar.
Texto de 2007
22 de junho de 2010
6 de junho de 2010
20/20
Eu nunca teria tido tanta pressa, nunca queria ter controlado tanto, nem usado óculos medrosos ou segurado tão firme. Eu teria mantido as divisórias demarcadas e mantido também meus amorosos “não’s” e meus gentis “sim’s”. Teria ariscado abandono e mantido minha palavra e, por conseqüência, me mantido conectado.
Teria ido devagar, acelerado fora de ritmo, teria demonstrado cautela enquanto molhava meus pés, teria dado passos de bebê na intimidade. Teria aprendido mais.
Essa fonte de arrependimento, esse olhar minucioso em retrospecto, me tortura pensar como tudo seria se eu soubesse o que sei hoje. Essa montanha de remorso apareceria na minha agora se eu soubesse então o que sei hoje?
Teria ido devagar, acelerado fora de ritmo, teria demonstrado cautela enquanto molhava meus pés, teria dado passos de bebê na intimidade. Teria aprendido mais.
Essa fonte de arrependimento, esse olhar minucioso em retrospecto, me tortura pensar como tudo seria se eu soubesse o que sei hoje. Essa montanha de remorso apareceria na minha agora se eu soubesse então o que sei hoje?
31 de maio de 2010
26 de maio de 2010
Completamente
Oi, eu estou bem aqui na sua frente, mas você insiste em não me ver. Tudo bem, opção sua, cada um enxerga o que quer. O problema é quando você, sem ter ideia de como sou, resolve dar a sua visão sobre mim. Talvez você não se enxergue também, antes de mais nada – e assim me tire por parecida contigo. Errando completamente. Para começar, eu faço questão de ver as pessoas ao meu redor, e isso faz toda a diferença do mundo. Percebo que todos têm algo de especial, estando aí a graça. Percebo belezas que não são minhas, estando aí o prazer.
Percebo inclusive você, parado bem na minha frente, desviando seu olhar para lá e para cá, nervoso com a minha presença, estando aí o ridículo.
Veja bem, não há o que temer em mim. Não quero nada que seja seu. E não sou nada que você também não seja, pelo menos um pouquinho.
Você não precisa gostar de mim para me enxergar, mas precisa me enxergar para não gostar de mim. Ou gostar, e talvez seja exatamente isso que você tema. Embora isso não faça sentido, já que a vida é bela, justamente, quando estamos diante daquilo que gostamos, certo?
- Fernanda Young
Percebo inclusive você, parado bem na minha frente, desviando seu olhar para lá e para cá, nervoso com a minha presença, estando aí o ridículo.
Veja bem, não há o que temer em mim. Não quero nada que seja seu. E não sou nada que você também não seja, pelo menos um pouquinho.
Você não precisa gostar de mim para me enxergar, mas precisa me enxergar para não gostar de mim. Ou gostar, e talvez seja exatamente isso que você tema. Embora isso não faça sentido, já que a vida é bela, justamente, quando estamos diante daquilo que gostamos, certo?
- Fernanda Young
21 de maio de 2010
18 de maio de 2010
One more time with feeling
You thought by now you'd be so much better than you are
You thought by now they'd see that you had come so far
And the pride inside their eyes would synchronize into a love you've never know. So much more than you've been shown...
You thought by now they'd see that you had come so far
And the pride inside their eyes would synchronize into a love you've never know. So much more than you've been shown...
15 de maio de 2010
12 de maio de 2010
Moratória a um passo
Você fala de coisas como se as tivesse experimentado antes. E isso não é bom, bem visto ou sequer permitido.
23 de abril de 2010
Bipolar meu cu
Se você tem variações de humor, você é normal. Bipolar é um transtorno psicológico grave. Sim, transtorno. E muito complicado de ser diagnosticado mesmo por profissionais. Parem de fazer piadinha com isso. Uma coisa não tem a ver com a outra, nem de longe.
22 de abril de 2010
Sister blister
Você e eu somos feitos do mesmo tecido, parece para alguns que nós somos famosos por nos darmos bem. Mas você e eu somos estranhos um para o outro porque você e eu somos competitivos até os ossos.
Você e eu nos sentimos ligados, mas somente pelo gênero. Nós não somos todos por um e um por todos.
Nós lutamos para satisfazer os irmãos, nós pensamos que a aceitação deles é a nossa vitória. E eles ficam é felizes, assistindo um massacrando o outro para poder entrar no clubinho deles.
Você e eu nos sentimos ligados, mas somente pelo gênero. Nós não somos todos por um e um por todos.
Nós lutamos para satisfazer os irmãos, nós pensamos que a aceitação deles é a nossa vitória. E eles ficam é felizes, assistindo um massacrando o outro para poder entrar no clubinho deles.
17 de abril de 2010
Elementar
Dizer que eu gosto dos seus sapatos. Sentar no sofá enquanto você toma banho. Um beijo no pescoço, um beijo na bochecha.
Eu não quero brincar de esconde esconde. Quero falar de grandes ideias como se fosse uma receita de bolo. Tudo é passageiro mesmo. Quero empacotar minhas coisas - nada precioso, tudo sagrado - e te falar sobre um programa engraçado que eu vi na televisão e não rir de todas as suas piadas.
Dizer o quanto eu amo seus olhos, seus cabelos, sua boca. Saber detalhes. Onde você joga suas chaves quando entra em casa. Assistir filmes ótimos! Assistir filmes péssimos! Ficar preocupado quando você tá atrasado. Ficar feliz quanto você chega mais cedo.
Ficar me perguntando quem você é, e te aceitar mesmo assim. Achar que eu sou a pior pessoa do mundo porque eu não dou o melhor de mim pra você e por que você não merece nada menos que isso. Mas falar a verdade porque você quer sim ouvi-la.
Te segurar quando você estiver ansioso, com medo, com frio. Mesmo que nunca esteja tão frio assim.
Eu não quero brincar de esconde esconde. Quero falar de grandes ideias como se fosse uma receita de bolo. Tudo é passageiro mesmo. Quero empacotar minhas coisas - nada precioso, tudo sagrado - e te falar sobre um programa engraçado que eu vi na televisão e não rir de todas as suas piadas.
Dizer o quanto eu amo seus olhos, seus cabelos, sua boca. Saber detalhes. Onde você joga suas chaves quando entra em casa. Assistir filmes ótimos! Assistir filmes péssimos! Ficar preocupado quando você tá atrasado. Ficar feliz quanto você chega mais cedo.
Ficar me perguntando quem você é, e te aceitar mesmo assim. Achar que eu sou a pior pessoa do mundo porque eu não dou o melhor de mim pra você e por que você não merece nada menos que isso. Mas falar a verdade porque você quer sim ouvi-la.
Te segurar quando você estiver ansioso, com medo, com frio. Mesmo que nunca esteja tão frio assim.
16 de fevereiro de 2010
A garota no táxi
Ela tinha baixa estatura, cabelos pretos curtos e desfiados, olhos castanhos bem grandes e uma boca fininha que, de uma maneira misteriosa, indicava que ela fumava. Quando o taxista foi informado que devia levar essa garota ao manicômio da cidade, não pôde acreditar.
- Você parece normal - disse ele.
- Eu estou triste.
- Todos estão.
- Você parece normal - disse ele.
- Eu estou triste.
- Todos estão.
24 de janeiro de 2010
Sozinho ainda
Todo mundo fala muito da discriminação que existe entre as pessoas baseada em sua cor, religião, corte de cabelo ou status social. Acontece que isso é apenas o reflexo do desejo de sobrevivência da identidade de uma tribo. O problema é tratar mal os diferentes, não é se cercar de iguais.
É, caminhamos bilhões e bilhões de anos de evolução, mas ainda não conseguimos escapar dessa programação genética que nos trouxe até aqui. É impossível negar. Você pode ser a pessoa mais mente aberta do mundo e se dizer desprovido de qualquer preconceito, mas não consegue namorar uma pessoa que ouve tal e tal banda.
Não vivemos de instintos primários, como um crocodilo ou uma ameba qualquer, mas o que achamos ser livre-arbítrio é apenas a liberdade de escolha dentro de padrões limitados e pré-determinados pela tribo. Impossível negar que é muito mais confortável estar com gente que tem um padrão de vida parecido com o seu e que freqüenta os mesmos lugares, que tem os mesmos valores.
Cada uma de nossas células é governada por DNAs irmãos, proteínas que não tem olhos para ver o mundo em branco ou preto. Enzimas que não sabem se você é hétero ou gay. Mitocôndrias que não têm ideia do valor do seu contra-cheque. Foda-se. Ninguém pensa assim. Nem eu.
Eu preciso ter mais amigos gays e mais amigos vegetarianos e mais amigos que acreditam em Deus e que nenhum deles seja jovem ou bobo demais. É pedir muito, mas é muito chato estar cercado de gente e se sentir sozinho ainda.
É, caminhamos bilhões e bilhões de anos de evolução, mas ainda não conseguimos escapar dessa programação genética que nos trouxe até aqui. É impossível negar. Você pode ser a pessoa mais mente aberta do mundo e se dizer desprovido de qualquer preconceito, mas não consegue namorar uma pessoa que ouve tal e tal banda.
Não vivemos de instintos primários, como um crocodilo ou uma ameba qualquer, mas o que achamos ser livre-arbítrio é apenas a liberdade de escolha dentro de padrões limitados e pré-determinados pela tribo. Impossível negar que é muito mais confortável estar com gente que tem um padrão de vida parecido com o seu e que freqüenta os mesmos lugares, que tem os mesmos valores.
Cada uma de nossas células é governada por DNAs irmãos, proteínas que não tem olhos para ver o mundo em branco ou preto. Enzimas que não sabem se você é hétero ou gay. Mitocôndrias que não têm ideia do valor do seu contra-cheque. Foda-se. Ninguém pensa assim. Nem eu.
Eu preciso ter mais amigos gays e mais amigos vegetarianos e mais amigos que acreditam em Deus e que nenhum deles seja jovem ou bobo demais. É pedir muito, mas é muito chato estar cercado de gente e se sentir sozinho ainda.
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